sábado, 15 de outubro de 2011

Estados brasileiros travam 'guerra fiscal' na disputa por unidade de produção de iPads

Com poucas conexões de transporte com o mundo externo além do aeroporto e do Rio Amazonas, Manaus seria atualmente um lugar muitíssimo atrasado se não fosse pelas isenções fiscais que transformaram a cidade em uma versão das selvas de uma zona de livre comércio chinesa.

Cercada pela floresta impenetrável, essa histórica capital brasileira da borracha, de 2 milhões de habitantes, produz 90% das motocicletas do Brasil, incluindo caras BMWs e Harley-Davidsons, a maioria das bicicletas, um terço dos relógios e grande parte dos televisores de telas planas e outros aparelhos eletrônicos.

“Cerca de 90% da nossa economia baseia-se na atividade industrial”, afirma Marcelo Lima Filho, secretário de Planejamento do governo estadual do Amazonas, cuja capital é Manaus. “Existem mais de 100 mil empregos na nossa zona industrial”.

Mas atualmente Manaus está lutando pela sobrevivência. A cidade está procurando garantir para si um dos maiores projetos tecnológicos já vistos no Brasil – um plano de US$ 12 bilhões para a produção de iPads.

Mas Estados mais poderosos, especialmente São Paulo, o mais rico e industrializado do Brasil, estão tentando ganhar a disputa pelo projeto com a oferta de isenções fiscais próprias – benefícios que Manaus alega que são ilegais de acordo com a constituição, e que acabariam fatalmente erodindo as vantagens fiscais obtidas com a instalação de fábricas no Amazonas.

“Nós estamos lutando para proteger não apenas os nossos interesses, mas também os nossos direitos”, diz Wilson Pericó, presidente de um dos maiores grupos de lobby do setor industrial de Manaus.

Situada próxima ao “encontro das águas”, o local em que dois dos maiores rios da Bacia Amazônica se encontram, Manaus sempre foi uma anomalia.

Durante o apogeu do ciclo da borracha, no final do século 19, os magnatas fabulosamente ricos da cidade gastaram os seus milhões com a construção do Teatro Municipal, que atraiu os melhores espetáculos internacionais da época. O prédio rosa e branco em estilo renascentista ainda domina a maltratada área do centro da cidade, onde barcaças do Amazonas com nomes como Coração de Jesus atracam no cais.

Depois que a indústria da borracha entrou em colapso, o destino da cidade só mudou para melhor na década de sessenta, quando a ditadura militar que governava o Brasil deu início a esforços para povoar os vastos vazios populacionais do Amazonas.

O governo militar concedeu isenções fiscais a companhias para que estas fabricassem os seus produtos em Manaus. Atualmente, esses benefícios, que estão garantidos pela constituição do país, fazem com que seja 35% mais barato fabricar produtos como eletrônicos na cidade do que em qualquer outro lugar do Brasil, segundo a Ernst & Young.

As isenções fiscais de Manaus são particularmente atraentes quando se leva em conta o complicado sistema tributário do Brasil, que o Banco Mundial colocou em 152º lugar na sua lista decrescente de simplicidade e funcionalidade, e que é capaz de aumentar em até 60% o preço no varejo dos produtos no país.

Mas o destino da cidade está dependendo agora do resultado daquilo que passou a ser conhecido como a “guerra fiscal”, na qual os Estados competem para atrair fábricas, oferecendo a estas incentivos fiscais.

Tecnicamente, tais incentivos precisariam ser aprovados primeiro por todos os outros Estados. Mas, na prática, muitos Estados concedem esses incentivos assim mesmo, sem a aprovação das outras unidades da federação, provocando uma enxurrada de processos na justiça e fazendo aumentar a confusão entre os investidores.

“Essa questão é muito política, as discussões são muito difíceis”, afirma Sérgio Fontenelle, especialista em tarifas e comércio internacional da Ernst & Young, em São Paulo, referindo-se às negociações tributárias entre Estados.

Atualmente, Manaus está processando São Paulo pelo fato de este Estado ter oferecido incentivos fiscais para atrair a Foxconn, de Taiwan, a fabricante do iPad da Apple, em um projeto que o governo afirma que gerará 100 mil empregos.

“Nós temos estradas, logística e oferta de engenheiros e trabalhadores”, diz José Clóvis Cabrera, uma autoridade da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, referindo-se à tentativa do seu Estado de vencer a disputa pelo projeto.

Ainda não houve uma decisão quanto a isso. Mas o empresariado de Manaus está nervoso. Eles sabem que a sua própria existência nessa região cercada pela selva depende da defesa vigorosa do seu sistema de incentivos fiscais.

“Nós só somos competitivos devido ao regime tributário federal”, admite Lima.

Fonte: Financial Times (Joe Leahi)
Tradução: UOL

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Condenado à forca aos 14 anos aguarda liberdade no Sudão do Sul

Ele se chama Alphonse Kenyi. Aguarda em uma prisão do Sudão do Sul que um tribunal anule a condenação à morte ditada contra ele quando tinha 14 anos. "El País" o entrevistou entre os muros de uma prisão putrefata

"Eu nunca disse diante do juiz que tinha matado alguém." Alphonse Kenyi, que já completou 15 anos, está na última ala da prisão de Juba, reservada para os condenados à morte. Está atrás das grades desde outubro de 2009. Foi condenado por assassinato múltiplo quando tinha só 14 anos. Foi indicado como membro de um grupo que vagava pela cidade matando gente, os chamados "niggers". Está no corredor da morte desde outubro de 2010. Sobre ele pende a sombra da forca.

Sua história é o reverso obscuro de um processo ilusório. Em 9 de julho passado, o Sudão do Sul se transformou em um país independente, e a cidade de Juba, na capital mais jovem do mundo. Depois de uma guerra de 22 anos contra o norte, Juba é hoje uma cidade otimista, que olha para o futuro. A nova corrente de esperança chega até a prisão Central e inclusive até o corredor da morte, onde os condenados sonham que o novo Estado os perdoe.

Alphonse é o mais jovem deles. O sexto de sete irmãos e o único que pôde ir ao colégio, embora só durante dois anos. Seus pais, que estavam desempregados e com trabalhos ocasionais, não podiam pagar a educação de seus filhos. Viviam em Kalitok, um povoado a cerca de 85 quilômetros de Juba. Em 2008 mudaram-se para a capital, para que o pai, doente, pudesse receber cuidados médicos. A mãe conseguiu um trabalho no Serviço da Vida Selvagem, e Alphonse, como muitos outros meninos de Juba, se dedicava a recolher garrafas plásticas pela rua para vendê-las como recipientes ou para reciclagem. Mas a liberdade de mover-se pelas ruas de Juba durou só um ano para Alphonse: em outubro de 2009 foi preso por assassinato múltiplo.

"Tinha havido tiros e assassinatos em Nyakuron [um subúrbio de Juba], por isso a polícia começou a procurar qualquer pessoa com uniformes e pistolas. Me encontraram em casa e viram o uniforme de minha mãe. A polícia me prendeu e me levou para a delegacia", explica Alphonse.

Juba, a capital do Sudão do Sul, é uma cidade em ebulição. Quase totalmente destruída durante a guerra que acabou em 2005, hoje abundam os locais em obras. Torres de vidro abrigam hotéis e bancos junto de edifícios meio arruinados. Carros todo-terreno com os vidros escuros conduzem governantes e dignitários internacionais que cruzam com vacas de longos chifres e cabras procurando comida entre o lixo nas ruas.

A prisão está situada no centro da cidade. É um dos poucos edifícios que quase não mudaram nos últimos 60 anos. Diversos guardas e policiais armados com rifles gastos andam ao redor da porta principal, que se abre nos enormes muros de pedra coroados com arame. Outros sentam-se em cadeiras plásticas ou no chão, tentando encontrar um pouco de sombra para fugir do calor acachapante.

Dentro dos muros, em um pátio de terra, há várias poltronas queimadas pelo sol. Também aqui há dezenas de guardas e policiais que parecem não ter muito o que fazer. Andam lentamente, secando o suor do rosto, sentam-se nas poltronas ou no chão, alguns portam com má vontade seus velhos rifles AK-47. Cheira a urina, incontáveis moscas pousam na pele, na roupa, nos rifles, no forro rasgado das poltronas.

O oficial encarregado dos menores na prisão é Fabian Serit, um homem não muito alto e de sorriso fácil. Tem um rosto simpático e, apesar do calor, vem para o trabalho todos os dias com calças de terno e uma camisa de manga longa. Fabian sua constantemente e leva um lenço no bolso que passa pelo rosto a cada poucos minutos. Gosta de falar e ri com frequência. Quando está contando algo importante ou que ele considera uma confidência, pega seu braço e o olha fixamente com seus olhos avermelhados, enquanto baixa a voz.

"Um grupo chamado 'niggers' andava pela cidade matando pessoas. Foram presos e torturados e a polícia os obrigou a indicar seus seguidores pela rua, e foi então que denunciaram Alphonse", diz Fabian em voz baixa. E depois se exalta: "Mas ele é inocente, e além disso um menino! Por isso o levamos ao médico. O doutor disse que tinha 14 anos e agora estamos tentando mudar oficialmente sua idade para livrá-lo da pena de morte". Em janeiro de 2010 o Sudão mudou suas leis e aumentou de 15 para 18 anos a idade mínima para que um criminoso possa ser condenado à pena capital.

Fabian e outros funcionários da prisão trabalham em um escritório muito pequeno e de paredes nuas, no qual três mesas e algumas cadeiras mal deixam lugar para nada mais. Todos os relatórios e documentos estão em papel e manuscritos em uma mistura de inglês e árabe. Dois funcionários tentam sem muito êxito usar o programa Microsoft Word no único e velho computador que acaba de ser doado pela ONU. As moscas e o calor invadem o escritório, embora aqui se possa pelo menos escapar do sol lancinante.

Portas de metal enormes e pesadas conduzem ao pátio interno da prisão e às celas. O pátio é um espaço amplo com piso de terra, dividido em duas partes por uma cerca. Novamente o calor, a luz, a poeira e as moscas. À direita da cerca há algumas árvores e um telhado de metal que dão um pouco de sombra. Os presos se concentram ali, sentados no chão, tentando fugir do sol e da luz cegante da manhã. Outros sentam-se junto ao muro que separa o pátio das celas à esquerda, onde também há uma estreita faixa de sombra. Quase não há movimento, quase ninguém caminha, e as conversas são em voz baixa.

O método de execução empregado na prisão é a forca. Fabian explica que há uma fórmula para pendurar os condenados. "Eles o medem e o pesam para regular a forca. Se não estiver bem regulada, pode lhe cortar a cabeça. Se isto ocorrer, os encarregados da regulagem são presos."

Incluindo Alphonse, no corredor da morte há hoje 50 condenados, todos por assassinato. Em 2011, até a independência em julho, dois presos foram executados. No ano passado foram oito ao todo, segundo conta Fabian. Além de Alphonse, nesta prisão há outros 46 meninos que convivem com cerca de mil réus adultos. Também há cinco meninas, alojadas em um edifício contíguo, com as mulheres.

A maioria dos presos adultos, assim como quase todos os policiais e guardas, são ex-guerrilheiros que lutaram na guerra civil entre o norte e o sul do Sudão entre 1983 e 2005. Entre os presos adultos, os delitos mais comuns são roubo, adultério, violação e assassinato. Entre os meninos, os pequenos roubos e alguns assassinatos.

O caso dos condenados por assassinato é particular. "A pena depende da decisão dos parentes da vítima", explica James Warnyang, outro funcionário encarregado dos menores. Os familiares pedem ao assassino uma quantia em dinheiro como indenização. É o que em árabe chamam "dia" e em inglês "blood money" (dinheiro de sangue). A lei estabelece que os familiares podem pedir no máximo 30 mil libras (cerca de 8.250 euros) e essa é a quantia solicitada em quase todos os casos. "Mas depende das tribos", explica Fabian; "por exemplo, os dinka podem pedir 30 vacas em vez de 30 mil libras". Quando se define o valor, o juiz impõe uma nova sentença de prisão, de até cinco anos se for um menor e até dez se for adulto.

"Mas se os parentes da vítima disserem que querem o assassino morto, está resolvido: são eles que decidem e não há nada a fazer, mas se o condenado for menor a lei diz que não pode executado", conclui James. Na prisão Central de Juba, além de Alphonse há nove menores que cumprem penas de prisão por assassinato.

São várias alas: uma para os presos comuns, outra para os doentes mentais, outra para os presos políticos, que, curiosamente, é a ocupada pelos menores. Uma porta no muro dá acesso à ala para os presos políticos. Os menores esperam sob um toldo metálico, de pé e em filas. Usam roupas sujas e rasgadas, estão muito magros e aguardam com expectativa. De repente começam a cantar enquanto batem palmas e se movem ritmadamente.

Quando a canção acaba, todos se sentam no chão em filas e olham com olhos enormes, com intensidade, alguns de boca aberta, outros com sorrisos de emoção. A cena lembra mais uma escola que uma prisão.

Muitos meninos querem falar e suas histórias poderiam encher um livro de reportagens. Ali está Mangar Abuc Malnal, 16 anos, que parece um dos chefes do grupo. Os demais falam seu nome em coro enquanto Mangar, cheio de energia e confiança, se levanta e conta com naturalidade que assassinou outro menino em uma briga, enquanto Fabian e vários menores riem. Ele mesmo se entregou à polícia em julho de 2009 e está desde então na prisão.

Mas seu julgamento só se realizou em dezembro de 2010, quando foi condenado a pagar 30 mil libras como dinheiro de sangue à família da vítima e a três anos de prisão, que começaram a contar no momento da condenação. Mangar diz que quando podem jogar futebol não é ruim, embora a comida não seja boa. "Mas a bola furou e agora não temos nada para fazer, por isso passamos o dia sem fazer nada e pensando."

O caso de Diu Ajak também é interessante. Alto, muito magro e com o rosto infantil e triste, tem 13 anos mas aparenta 9 ou 10. "Tinha fome, por isso entrei na casa, peguei 120 libras [32 euros] e uma pequena câmera de fotos", conta Diui em voz muito baixa. "O dono do dinheiro me pegou e me bateu com um pau. Era um oficial do exército. Levou-me para a delegacia e lá os policiais me bateram, me deram muitas chicotadas." Então Diu se cala, levanta a camisa e mostra as costas cheias de cicatrizes, apesar de isso ter ocorrido cinco meses atrás.

"Me colocaram em um carro e me levaram para indicar alguém. Eu indiquei alguns garotos porque os policiais tinham me batido. Os que indiquei são meus amigos, mas não estavam comigo quando roubei a casa", continua o jovem.

Os cinco meninos foram presos e levados a uma delegacia. Dois deles, Angok Mum e Chol Achek, ambos de 14 anos, levantam-se indignados e contam sua versão da história, que coincide com a de Diu, embora eles neguem que sejam amigos e afirmam que não o conheciam. Angok e Chol dizem que os policiais também lhes bateram na delegacia para que confessassem ter roubado, mas que eles nunca o admitiram.

Mais adiante, Fabian contará por telefone que Diu e os cinco menores presos junto com ele foram libertados depois de passar mais de sete meses na prisão sem ter-se realizado o julgamento. E no caso dos cinco indicados por Diu sem provas contra eles.

Enquanto Diu, Angok e Chol falam, um funcionário trouxe Alphonse, que se deixou cair em uma cadeira de plástico. Alto, magro, cabisbaixo, de rosto largo e grandes olhos, não deixa de tocar seus pés e as correntes que lhe machucam os tornozelos. Os outros meninos o olham com respeito e à distância. Alphonse simplesmente os ignora. Um dos funcionários diz para os meninos que podem ir e a maioria se levanta e vai embora. Alphonse senta-se no chão e, de olhos baixos, faz desenhos na areia. Alguns meninos ficam e se sentam ou deitam perto dele, olhando sérios e em silêncio.

Começa a falar e diz que seu nome completo é Alphonse Kenyi Makwach e nasceu em 19 de janeiro de 1996. Quase não levanta o olhar e fala monótona e lentamente, como se estivesse cansado ou aborrecido de repetir as mesmas palavras, enquanto continua traçando formas e letras na areia do solo. "Me prenderam em outubro de 2009. Minha mãe trabalha para o Serviço de Proteção da Vida Selvagem e seu uniforme [parecido com o dos soldados] estava em casa."

"Me humilharam, me bateram muitas vezes, queriam que eu admitisse ter feito coisas que não fiz. Me meteram em uma cela com mais gente que era acusada de matar e de destruir o povoado, e me acusaram do mesmo. Me batiam com esse bastão que a polícia tem. Se eu olhasse para eles, me batiam. Levaram-me para o tribunal e o juiz perguntou: 'O que fez esta pessoa?' O promotor disse: 'Estas pessoas mataram'. E nos trouxeram aqui para a prisão. O promotor voltou à delegacia e escreveu que todos tínhamos confessado e por isso nos condenaram à morte. Mas diante do juiz eu nunca disse que tinha matado."

Ele segue seu discurso lentamente, mas sem pausa; os outros meninos escutam em silêncio e acompanham a cena com intensidade. "Na delegacia, os policiais usaram navalhas e agulhas, me diziam para confessar, mas eu nunca admiti nada. Me enfiavam agulhas entre a carne e a unha, causando-me muita dor, e depois rompiam a unha com a navalha." Então Alphonse para de falar. Levanta a vista e mostra os dedos e os sinais em suas unhas, como pequenas cicatrizes por onde a unha se teria rompido.

"Eu não conhecia as outras pessoas que estavam na cela. Todos eram maiores que eu. Não me falaram nem me disseram nada. A polícia também torturou a eles, a todos fizeram o mesmo", acrescentou o jovem. Eram ao todo oito pessoas: Alphonse e três homens foram condenados à morte, outro foi sentenciado a 14 anos de prisão e duas mulheres e uma menor também foram castigadas com 14 anos.

Alphonse se cala e continua fazendo desenhos no chão. O ambiente se descontraiu um pouco, todos parecem voltar a respirar, as meninas começam a falar e a se mover. Alguns se aproximam de Alphonse e falam com carinho, tentam animá-lo, fazem brincadeiras, às vezes conseguem lhe arrancar um leve sorriso.

James Warnyang, outro funcionário que se ocupa dos menores, murmura: "Ele não acredita mais que vão libertá-lo, acredita que será executado". E então lhe conta o que Fabian e ele estão fazendo para demonstrar que é um menino, que foi condenado com 14 anos, e lhe garantem que não será enforcado. Mas Alphonse não reage, não levanta os olhos para James e simplesmente continua brincando com a areia, fazendo desenhos e pequenos montes com ela.

Depois de conseguir o documento da comissão médica que certifica que Alphonse tem 15 anos, o funcionário Fabian elaborou um relatório completo sobre o caso, que primeiro teve de ser aprovado pelo diretor da prisão, depois por um tribunal em primeira instância e agora está pendente de resolução no Tribunal Supremo.

Se for aceito que Alphonse foi condenado à morte quando tinha 14 anos, então a sentença será invalidada e o tribunal terá de fixar uma pena de prisão que, por se tratar de um menor de idade, poderia ser de até cinco anos, além do pagamento do dinheiro de sangue às famílias das vítimas. "E imediatamente depois da resolução o tiraríamos do corredor da morte e o traríamos para cá com os outros meninos", salienta Fabian.

Alphonse usa uma camiseta do Liverpool, mas não responde sobre se gosta de futebol e desse time. Os outros meninos insistem, falam de futebol, fazem pequenas piadas, tentam fazê-lo rir e então sim, ele reage e fala um pouco com os outros rapazes; a atmosfera parece um pouco mais leve durante alguns instantes.

Passa as noites na ala dos condenados à morte, mas os outros menores dormem em um quarto junto desse pequeno pátio coberto por um telhado de metal. Trata-se de um único quarto de cerca de 4 metros por 15 de comprimento. Junto às paredes se apertam cerca de 15 colchões de espuma. São muito finos e estão rasgados e cobertos por lençóis velhos e sujos. Em cada um deles dormem três meninos. Alguns mosquiteiros pendem do teto sobre os colchões, mas não são suficientes e estão cheios de buracos.

A visita à prisão Central de Juba chega ao fim. Alphonse continua sentado no chão, novamente com o olhar baixo e triste. Os outros meninos se levantam, começam a andar, se empurram uns aos outros e brigam de brincadeira, riem e começam a jogar. De volta ao escritório, e depois de interrogá-lo sobre a tortura, Fabian conta: "Nos quartéis da polícia lhe batem, usam fogo e outros objetos para que você diga a verdade. De fato, os presos querem ser trazidos para a prisão o mais cedo possível, porque sabem que aqui não torturamos ninguém".

Lá fora, o sol continua inundando o pátio de terra entre o zumbido das moscas e as conversas dos guardas. Os policiais passeiam lentamente ou se deixam cair junto de seus rifles nas poltronas queimadas pelo calor.

Fonte: El País/José Miguel Calatayud
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Algumas famílias produzem jogadores de beisebol. Outras produzem terroristas

O senso comum diria que o terrorista típico vem de uma família pobre e tem baixa escolaridade. Isso parece razoável. As crianças que nascem em famílias de baixa renda e com pouca escolaridade têm mais probabilidade do que a média de se tornarem criminosas, então será que o mesmo não vale para os terroristas?

Para descobrir, o economista Alan Krueger vasculhou um informativo do Hezbollah chamado Al-Ahd (O Juramento) e compilou detalhes biográficos de 129 “shahids” mortos, ou mártires. Ele então os comparou com homens da mesma faixa etária da população geral do Líbano. Os terroristas, ele descobriu, tinham menos probabilidade de vir de uma família pobre (28% contra 33%) e mais probabilidade de ter pelo menos ensino médio (47% contra 38%).

Em geral, descobriu Krueger, “os terroristas tendem a sair de famílias de classe média ou alta e de boa escolaridade”. E apesar de poucas exceções, esta tendência também é verdadeira no resto do mundo, desde grupos terroristas latino-americanos até os membros da Al Qaeda responsáveis pelos ataques de 11 de setembro.

Como isso pode ser explicado?

Pode ser porque quando você está faminto, têm coisas melhores para se preocupar do que explodir a si mesmo. Pode ser porque os líderes terroristas dão um alto valor para a competência, uma vez que um ataque terrorista exige mais planejamento do que um crime comum.

Além disso, aponta Krueger, o crime é motivado principalmente pelo ganho pessoal, enquanto o terrorismo é fundamentalmente um ato político. Em sua análise, o tipo de pessoa com maior probabilidade de se tornar terrorista é semelhante ao tipo de pessoa com maior probabilidade de... votar.

Qualquer um que tenha lido um pouco de história reconhecerá que o perfil do terrorista de Krueger soa um tanto quanto o típico revolucionário. Fidel Castro e Che Guevara, Leon Trotsky e Vladimir Lenin – você não encontrará nenhum homem de classe baixa e sem escolaridade entre eles.

Mas um revolucionário e um terrorista têm objetivos diferentes. Revolucionários querem derrubar governos. Terroristas querem – bem, nem sempre isso é claro. Como diz um sociólogo, eles podem desejar refazer o mundo de acordo com sua própria imagem distópica; terroristas religiosos podem querem destruir instituições seculares. Krueger cita mais de 100 definições acadêmicas diferentes para o terrorismo.

O que torna o terrorismo particularmente enlouquecedor é que matar nem é o ponto principal. Em vez disso, são os meios pelos quais amedrontar os vivos. O terrorismo é, portanto, diabolicamente eficiente, exercendo muito mais poder do que uma quantidade igual de violência não terrorista.

Em outubro de 2002, a área metropolitana de Washington D.C. teve 50 assassinatos, um número típico para o local. Mas dez deles foram diferentes. Em vez das disputas domésticas típicas ou assassinatos por parte de gangues, estes foram assassinatos aleatórios e inexplicáveis. Pessoas comuns foram mortas enquanto colocavam gasolina no carro ou cortavam a grama. Depois dos primeiros assassinatos, o pânico se instalou. E conforme continuavam, a região ficou praticamente paralisada.

Que tipo de organização sofisticada engendrou tanto terror?

Apenas duas pessoas: um homem de 41 anos e seu cúmplice adolescente, usando um rifle Bushmaster calibre .223 e atirando de um velho sedã Chevrolet. Tão simples, tão barato e tão eficaz: este é o poder do terror. Imagine se os 19 sequestradores do 11 de setembro, em vez de se darem ao trabalho de chocarem os aviões contra os prédios, tivessem se espalhado ao redor dos Estados Unidos e começado a atirar em pessoas aleatórias todos os dias. O país inteiro teria ficado de joelhos.

O terrorismo é eficiente porque impõe custos sobre todos, não apenas às suas vítimas diretas. O custo mais substancial desses é o medo de um ataque futuro, mesmo que este medo seja transferido grosseiramente: a probabilidade de um norte-americano médio morrer num dado dia do ano vítima de um ataque terrorista é de aproximadamente uma em 5 milhões.

Mas considere os custos menos óbvios, também, como a perda de tempo e liberdade. Pense sobre a última vez que você passou pela fila de segurança do aeroporto e foi obrigado a retirar os sapatos, passar pelo detector de metais e depois andar recolhendo seus pertences.

A beleza do terrorismo – se você é um terrorista – é que você pode ser bem sucedido mesmo quando falha. Nós criamos essa rotina de tirar os sapatos graças a um inglês chamado Richard Reid, que, embora não tenha conseguido acionar a bomba que tinha no seu sapato, acabou deixando um preço alto. Digamos que leve em média um minuto para tirar e colocar os sapatos na fila de segurança do aeroporto. Só nos EUA, este procedimento acontece aproximadamente 560 milhões de vezes por ano. Quinheitos e sessenta milhões de minutos equivalem a mais de 1.065 anos – que, divididos por 77,8 anos (a média de expectativa de vida do norte-americano), chega a um total de quase 14 vidas humanas. Então embora Reid não tenha conseguido matar ninguém, ele impôs um ônus que e o tempo equivalente a 14 vidas por ano.

Os custos diretos dos ataques de 11 de setembro foram massivos – quase 3.000 vidas e prejuízos econômicos de até US$ 300 bilhões – bem como os custos das guerras do Afeganistão e do Iraque que os EUA lançaram em resposta. Mas considere o custo colateral também. Em apenas três meses depois dos ataques, houve mil mortes no trânsito a mais nos EUA. Por quê?

Um fator que contribuiu para isso foi que as pessoas pararam de voar e começaram a pegar a estrada. Por milha, dirigir é muito mais perigoso do que voar. É interessante, entretanto, que o dado mostra que a maior parte desse aumento das mortes no trânsito aconteceu não nas rodovias interestaduais, mas nas estradas locais, e elas se concentraram no nordeste, perto de onde ocorreram os ataques terroristas. Esses fatos, junto com uma miríade de estudos psicológicos de efeitos do terrorismo, sugerem que os ataques de 11 de setembro levaram a um aumento do abuso de álcool e a um estresse pós-traumático que se traduziram, entre outras coisas, em mais mortes no trânsito.

Estes efeitos são quase intermináveis. Milhares de universitários e professores nascidos no estrangeiro foram mantidos fora dos EUA por causa das novas restrições de visto depois dos ataques de 11 de setembro. Na cidade de Nova York, tantos recursos policiais foram desviados para o terrorismo que outras áreas, como unidades anti-Máfia, foram negligenciadas. Um padrão semelhante foi repetido em nível nacional. Dinheiro e mão-de-obra que de outra forma teriam sido gastos caçando criminosos financeiros foram em vez disso desviados para a caça de terroristas – talvez contribuindo para, ou pelo menos exacerbando, a crise financeira recente.

Nem todos os efeitos de 11 de setembro foram prejudiciais. Graças à redução do tráfego aéreo, a gripe influenza demorou a se espalhar. Em Washington D.C. o crime caía sempre que o alerta de terror subia (graças ao policiamento extra que inundava a cidade). E um aumento na segurança nas fronteiras foi benéfica para os fazendeiros da Califórnia – que, à medida que as importações mexicanas e canadenses diminuíram, plantaram e venderam tanta maconha que ela se tornou um dos produtos agrícolas mais valiosos do estado.

Fonte: Freakonomics/Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner
Tradução: Eloise De Vylder

sexta-feira, 8 de julho de 2011

EUA conseguirão limitar sua participação na Líbia?

Surgem as pesquisas e os americanos apoiam em peso os ataques aéreos na Líbia. Isso não causa surpresa. Você entra em uma guerra e os americanos apoiam os americanos, que é, em grande parte, como deve ser. Todos os presidentes também esperam confiantemente que seja assim.

É assim que as guerras começam. Neste caso, a guerra começa sem qualquer debate real, sem uma palavra falada no Congresso, sem qualquer discussão filosófica sobre quando e onde usar a força.

Mas como as guerras terminam é outra conversa. E enquanto o presidente Barack Obama promete um fim rápido, eu tenho dificuldade em imaginar como seria uma vitória na Líbia.

Primeiro, se for rápida, não realmente parecerá uma vitória –a menos, é claro, que a expectativa seja de que Muammar Gaddafi se renda e negocie uma saída do país, enquanto ainda tem uma chance.

Esse certamente é um caminho para se torcer. Mas choque e espanto não levaram Saddam Hussein a se esconder em um buraco. Para isso foram necessários soldados marchando em solo. Muitos soldados cobrindo muito terreno.

O almirante Mike Mullen, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, disse que é possível que quando termine o papel dos Estados Unidos –e ele não disse quando seria– Gaddafi ainda esteja no comando da Líbia.

Mas é realmente possível que o fim na Líbia pareça muito com o começo, exceto com a manutenção da zona de exclusão aérea e muitos jipes e tanques queimados no solo?

Nós insistimos que estamos envolvidos na Líbia para prevenir a perda de vida de civis. Gaddafi é, é claro, um ditador impiedoso, não diferente de muitos ditadores há 40 anos.

Mas ninguém consegue seriamente acreditar que escolhemos a Líbia entre todos os locais de risco do mundo apenas para proteger a população. Nós estamos aplicando uma zona de exclusão aérea bombardeando as tropas de Gaddafi. Se você está assistindo a TV, parece bastante o início de uma guerra.

Presumivelmente, nós estamos lá porque estamos torcendo, como deveríamos, pela continuidade do sucesso do Despertar Árabe, e estamos preocupados que se não demonstrarmos apoio na Líbia, o nascente movimento democrático na região perderá força.

E obviamente queremos estar lá porque queremos a queda de Gaddafi. Isso não é segredo. Obama diz que Gaddafi perdeu a legitimidade para governar. Eu acho que nós concordamos que ele perdeu isso décadas atrás.

O que sabemos é que não dá para impor democracia e que, como Obama disse repetidamente, os líbios devem conquistar sua própria liberdade.

A estratégia aqui aparentemente é as forças americanas possibilitarem a zona de exclusão aérea e então partirem, deixando o papel de liderança para a Otan, o que significa uma força de maioria francesa e britânica. Caso aconteça, isso poderia liberar os Estados Unidos a curto prazo, mas isso não muda a dinâmica na região.

Caso isto se transforme em um assunto de longo prazo, uma guerra civil real, nós podemos imaginar o que aconteceria se tropas fossem necessárias para remover Gaddafi. Elas teriam que ser tropas americanas. E o que aconteceria com essas tropas se/quando ele partir?

Alguns neoconservadores favoritos como Hugh Hewitt e Max Boot já estão pedindo por tropas em solo e acusando Obama de ser fraco demais para usá-las. Quantas guerras Obama teria que lutar ao mesmo tempo para perder esse estigma de sujeito que não quer lutar?

Nós sabemos o que acontece quando você emprega tropas. Peggy Noonan disse bem quando escreveu que “no minuto em que há botas no solo, no minuto em que deixarmos pegadas –surgirá, imediatamente, 15 motivos para a América não poder partir. No dia seguinte haverá 30 motivos, e no seguinte passarão a 45”.

Obama concorreu à presidência prometendo retirar as tropas do Iraque. Ele finalmente conseguiu a saída da maioria, mas não de todas. Enquanto isso, o Afeganistão se transformou na guerra de Obama, e as primeiras manchetes se tornaram as futuras manchetes. E a guerra longa se torna ainda mais longa.

Eu sei que Obama entende esses riscos. Ele relutou em se envolver na Líbia. Ele insiste que o papel americano deve ser limitado.

Mas o mundo não é tão simples. Como Donald Rumsfeld costumava dizer, coisas acontecem. Um terremoto de 9,0 atinge o Japão e o eixo do mundo se move.

A missão na Líbia é... qual?

Nós estamos entrando no que pode ser uma guerra civil. Nós não sabemos muito sobre os rebeldes. Eu me pergunto se sabemos quão profundamente comprometidos são os combatentes pró-Gaddafi.

O cenário de sonho é que com bombas suficientes, os simpatizantes de Gaddafi se dispersem, os rebeldes entrem marchando e o final, mesmo que não totalmente feliz, não nos envolva. Se nada disso acontecer, isso ainda nos deixaria com aproximadamente 15, 30, 45 outros cenários possíveis.

Fonte: The Denver Post (Mike Littwin)
Tradução: George El Khouri Andolfato

sábado, 18 de junho de 2011

Salários de executivos são tão grandes quanto o PIB do Tadjiquistão

Quando o que é grande se torna excessivo? Se a pergunta envolve a remuneração de executivos, a resposta é “com frequência”.

Mas apesar da quantidade de números a respeito da remuneração em qualquer ano, os acionistas frequentemente lutam para colocar esses números em perspectiva. As empresas geralmente exibem números de anos anteriores como referência, mas como essa remuneração está ligada, digamos, aos lucros da empresa ou ao seu desempenho no mercado de ações raramente é mostrada.

Os investidores podem analisar os números pessoalmente, é claro, mas é um processo bastante trabalhoso. Como resultado, a remuneração dos altos executivos das empresas mais proeminentes habita em uma espécie de vácuo, no que se refere aos investidores. Os acionistas sabem que pagam muito pela ajuda contratada, mas muito em comparação a o quê?

As respostas para essa pergunta surgiram rápida e furiosamente em um artigo recente, altamente detalhado, da “The Analyst’s Accounting Observer”, uma publicação da R.G. Associates, uma firma de pesquisa independente de Baltimore. Jack Ciesielski, o presidente da firma, e sua colega Melissa Herboldsheimer, examinaram declarações financeiras das empresas do índice Standard & Poor’s 500. Em uma reportagem intitulada “S&P 500 Executive Pay: Bigger Than ... Whatever You Think It Is” (Remuneração Executiva na S&P 500: Maior que... qualquer coisa que você ache que é), eles compararam a remuneração de altos executivos com outros custos corporativos e medidas.

É um exercício esclarecedor, apesar de enfurecedor. E fornece o ponto de vista que os acionistas precisam desesperadamente, particularmente agora que chegou a hora de votarem a respeito das práticas de remuneração corporativas.

Vamos começar pela vista do alto. A remuneração total de executivos aumentou 13,9% em 2010 entre as 483 empresas para as quais havia dados disponíveis para análise. A remuneração total para os 2.591 executivos nomeados dessas empresas, antes da dedução de impostos, foi de US$ 14,3 bilhões.

Isso é um bocado de dinheiro, não é? Mas Ciesielski coloca em perspectiva ao notar que o total é quase igual ao produto interno bruto do Tadjiquistão, que tem mais de 7 milhões de habitantes.

Empolgando-se com o assunto, Ciesielski também encontrou que 158 empresas pagaram mais remuneração em dinheiro para seus altos executivos no ano passado do que gastaram com suas empresas de contabilidade e auditoria. Trinta e duas empresas pagaram aos seus altos executivos mais em 2010 do que pagaram em impostos.

O artigo também fura o argumento de que concessões de ações aos executivos alinham os interesses dos administradores aos dos acionistas. O artigo calculou que nas 179 empresas no estudo, o valor médio das ações dos acionistas caiu entre 2008 e 2010, enquanto os altos executivos dessas empresas receberam aumentos. O artigo fica realmente suculento quando compara a remuneração executiva com itens como custos de pesquisa e desenvolvimento, e rendimentos por ação.

O artigo, por exemplo, comparou os rendimentos por ação com remuneração em dinheiro –apenas salário e bônus, quando há um. Ele identificou 24 empresas onde a remuneração em dinheiro no ano passado somou 2% ou mais da receita líquida da empresa com suas operações.

No topo dessa lista está a Allergan Inc., a empresa de atendimento de saúde cujos altos executivos receberam, deduzindo impostos, aproximadamente US$ 2,6 milhões em salários no ano passado. Isso representou 50% do que a empresa lucrou com suas operações, disse o artigo.

Caroline Van Hove, uma porta-voz da Allergan, disse que os salários foram altos em comparação à renda líquida em 2010, pois deduções únicas reduziram significativamente os lucros naquele ano; nos anos anteriores, ela notou, os lucros foram bem maiores do que a remuneração dos executivos. Ela também disse que o presidente-executivo da empresa não recebeu aumento de salário nos últimos três anos.

Passando aos custos de pesquisa e desenvolvimento, o artigo examinou as 62 empresas de tecnologia em sua amostragem que declararam essas despesas, excluindo certos custos associados a aquisições.

Ciesielski encontrou que o nível médio de remuneração de executivos foi igual a 5,3% dos gastos dessas empresas em pesquisa e desenvolvimento.

No topo da lista estava a Jabil Circuit, uma fabricante de placas e circuitos eletrônicos para os mercados de informática, comunicações e automotivo. Em 2010, seus US$ 27,7 milhões em remuneração aos executivos foram quase equivalentes aos US$ 28,1 milhões que gastou em pesquisa e desenvolvimento. Apesar do ano passado poder ter sido atípico, nos últimos quatro anos a remuneração na Jabil foi equivalente a 57,2% do valor gasto em pesquisa e desenvolvimento.

A Jabil não respondeu ao pedido de comentário.

Finalmente, há a comparação entre a remuneração executiva e a capitalização no mercado. Como notou Ciesielski, este cálculo fornece o maior choque de valor.

Onze empresas analisadas no artigo deram aos seus altos executivos, em pacotes de remuneração combinados, o equivalente a 1% ou mais do valor médio de mercado das empresas ao longo do ano. O Janus Capital Group, uma empresa de fundo mútuo, ficou no topo da lista, com uma remuneração totalizando quase US$ 41 milhões para cinco executivos. Isso representou 1,95% do valor médio de mercado da empresa ao longo de 2010.

“Para fazer jus ao que ganham”, disse o artigo, “os executivos deveriam criar valor para as ações no mercado no valor total de sua remuneração”. Os executivos da Janus fracassaram em aumentar o valor em 2010, quando as ações fecharam o ano mais ou menos como começaram. Neste ano, as ações da empresa caíram quase 30%.

A Janus se recusou a comentar.

Ciesielski disse acreditar que os acionistas precisam de mais contexto quando se trata de práticas de remuneração –e que isso precisa ser implantado para melhorar os relatórios de remuneração. “Os demonstrativos financeiros não são suficientes para esclarecer as pessoas”, ele disse em uma entrevista na semana passada, “a menos que adicionem a remuneração e encontrem uma forma de relacioná-la a outras coisas”.

“Nós precisamos de um modelo diferente”, ele acrescentou. “Há uma verdadeira falta de informação aqui sobre como os fundos dos acionistas estão sendo administrados.”

Isso pode explicar por que os acionistas, nas reuniões gerais anuais, raramente votam contra as práticas de remuneração. Broc Romanek, editor do CompensationStandards.com, disse que maiorias de acionistas em apenas 34 empresas, ou 2% daquelas que votaram até agora neste ano, rejeitaram os pacotes de remuneração dos executivos.

Se os acionistas pudessem avaliar o impacto da remuneração sobre as operações de uma empresa, eles ficariam mais informados, disse Ciesielski. Por exemplo, por que não mostrar a remuneração total dos executivos de uma empresa em comparação ao total de custos trabalhistas? Ou apresentar a remuneração dos executivos como percentual dos gastos em marketing, se isso é o que impulsiona os resultados de uma empresa?

“Como a remuneração dos executivos se relaciona aos elementos básicos que fazem uma empresa funcionar?” perguntou Ciesielski. “Nós devemos explorar esse tipo de informação.”

Fonte: New York Times (Gretchen Morgenson)
Tradução: George El Khouri Andolfato

domingo, 17 de abril de 2011

Dance, ria, beba, celebre a data: é um funeral ganense

Às 2h da manhã de um sábado no Bronx, a pista de dança estava lotada, as bebidas fluíam e um grupo de mulheres jovens com cortes de cabelo estilosos e saltos altos tinha acabado de chegar, prontas para cair na noite.

Poderia ser qualquer clube noturno ou festa de casamento – exceto pelas camisetas, pôsteres e CDs com a foto de uma mulher mais velha e elegante. A festa do barulho era, na verdade, o velório de Gertrude Manye Ikol, uma enfermeira de 65 anos de Gana que morreu dois meses antes. A alguns quarteirões dali, os convidados saíam de um funeral ainda mais animado.

Os irlandeses podem ser conhecidos por seus velórios festivos, mas os ganenses aperfeiçoaram o funeral exagerado. E na cidade de Nova York, essas festas ancoram o calendário social da comunidade cada vez maior de imigrantes da nação do oeste da África.

Quase todos os finais de semana, nos auditórios das igrejas e clubes da cidade, há eventos que duram a noite inteira, com open bar e música de rachar os vidros. Enquanto as famílias guardam dinheiro para cobrir as despesas com os funerais, equipes prósperas de DJs, fotógrafos, videógrafos, bartenders e seguranças mantêm tudo funcionando enquanto ganham um bom dinheiro.

Pode ou não haver um corpo presente, ou um clérigo. As crenças expressas podem ser cristãs evangélicas, católicas romanas ou seculares. A pessoa pode ter morrido em Nova York ou na África, há alguns dias ou até meses antes. Mas os funerais todos servem ao mesmo fim, como festas beneficentes para as famílias em luto e reuniões noturnas para enfermeiras ganenses, estudantes e taxistas dançarem para esquecer a dura vida de imigrantes em Nova York.

“Para nós é uma celebração, mas para um norte-americano, eles veem como um lugar de tristeza”, gritou Manny Tamakloe, 27, mecânico de aeronaves, mais alto do que a música enquanto bebia uma Guinness no velório de Ikol. “Se você for ganense e vier aqui, verá 10 ou 12 pessoas que conhece e elas o apresentarão a alguém. E antes de você perceber, acaba conhecendo todo mundo.”

“Por que você vai ao bar”, perguntou ele, “se pode vir aqui e ter tudo de graça?”

Casamentos, batizados e aniversários são todos muito celebrados nos círculos ganenses, mas poucos se igualam à escala e ao nível de decibéis de um funeral. Quando Kojo Ampah, 34, não tem planos para o final de semana, ele telefona para o seu amplo círculo de colegas expatriados para perguntar: “Ei, tem algum velório acontecendo?”

Geralmente abertos para todos, os funerais se tornaram maiores e mais frequentes nos últimos anos à medida que a população de ganenses na cidade de Nova York cresceu e se estabeleceu, dizem líderes comunitários. As estimativas do último censo mostram que há cerca de 21 mil ganenses na cidade, principalmente no Bronx, em comparação aos 14 mil que havia em 2005.

As festas são muito esperadas, promovidas com semanas de antecedência com publicidade online - “Reserve esta data”, dizia uma, “quando eu celebro a vida da minha mãe” – ou com pilhas de panfletos encerados nos restaurantes e mercearias africanos. Os panfletos costumam parecer pôsteres de teatro, com fotos da família e dos amigos em luto, conhecidos como os “carpideiros-chefe”, além dos créditos do mestre de cerimônias e da equipe técnica.

Um funeral bem frequentado tem um grande prestígio social – e quanto maior a festa, melhor. Numa noite de sexta-feira, quando Tamakloe já tinha ido a dois velórios, ele descreveu os arranjos para o memorial a um estranho que aconteceria no Bronx.

“Todo mundo está dizendo que este será o velório mais quente do ano”, disse ele.

O engenheiro Henry Boateng passou meses planejando o funeral de seu pai, Albert Ernest Boateng, que morreu em julho em Gana, neste sábado. Ele prevê que pelo menos 300 pessoas aparecerão.

As festas são um costume importado diretamente de Gana, onde os funerais são conhecidos mundialmente por seu tamanho e extravagância. Os caixões lá às vezes lembram carros alegóricos; o de um atleta pode ter a forma de uma bola de futebol, o de um pescador, a forma de um barco.

Em Gana, “o gasto mais significativo que você terá na vida não é o do seu casamento, mas o do seu funeral”, disse Brian Larkin, professor de antropologia que estuda a cultura do oeste da África.

“As pessoas entram numa exibição competitiva”, disse ele.

Como em Gana, os convidados dos velórios em Nova York não precisam conhecer o morto nem mesmo a família. Mas espera-se que eles exprimam suas condolências para a família, abram espaço na pista de dança e doem US$ 50 a US$ 100 – embora muitos não paguem – para ajudar a enviar o corpo de volta para a África ou cobrir outros gastos. Uma grande festa pode levantar milhares de dólares.

De fato, os funerais são o centro de uma economia vibrante. Henry Ayensu, dono de uma gráfica chamada Cre8ive House no Bronx, diz que imprimiu panfletos para 12 funerais ganenses nos últimos dois meses, muito mais do que o de costume.

Os fotógrafos são essenciais. Seis trabalharam no funeral de Ikol em 4 de março, e cada um levou um laptop, uma impressora colorida e um assistente. Eles tiraram fotos dos presentes, imprimiram-nas no local e as venderam por US$ 10 a US$ 20 cada.

Os funerais se tornaram tanto uma mina de dinheiro que às vezes faltam pretextos para eles, disse Ampah. Um novaiorquino, por exemplo, pode dar uma festa para o marido da sobrinha de um primo que morreu em Gana, mesmo que os dois nunca tenham se encontrado e muito pouco do lucro seja destinado à família na África.

Ampah disse que um taxista que ele conheceu ganhou US$ 6 mil num evento desses. “As pessoas não reclamam de pagar porque estão felizes por vir demonstrar apoio e se divertir”, disse ele.

Os funerais costumam começar por volta das 22h com bênçãos religiosas, cerimônias e discursos em inglês e Twi, uma língua de Gana. À meia-noite, a dança começa. Às 2h da manhã, chegam os penetras, e a festa chega ao auge.

Do lado de fora do funeral de Ikol, que aconteceu no saguão de uma igreja perto da avenida Tremont no Bronx, pessoas que chegavam tarde estavam paradas ao lado de seus carros, trocando jaquetas e calças jeans pela espécie de toga tradicional em vermelho e preto, as cores do luto. Meia dúzia de seguranças guardavam a porta.

“Quando eles forem embora, já serão 5h da manhã – sempre”, disse Carlos Rozano, um segurança que trabalhou em mais de uma dezena de funerais ganenses.

Do lado de dentro, o mestre de cerimônias elogiava Ikol por ser um católico devoto e um amigo leal, com a voz amplificada por uma torre de alto-falantes de 4,5 metros. A música começou, e lá pelas 2h, o salão pulsava com os sons da highlife, uma variedade de jazz ganense, músicas de big-band e ritmos africanos. Uma câmera de vídeo capturava a cena, que era projetada numa tela gigante acima do palco.

Francis Insaidoo, um bioquímico que recentemente se mudou para Nova York, disse que os funerais o fazem lembrar que ele pertence a uma comunidade. “Sinto que não estou sozinho”, disse ele.

Ele disse que não conhecia Ikol, mas seu colega de apartamento sim. O colega, bebendo uma cerveja, reconheceu com um dar de ombros que na verdade também não o conhecia.

“Você vem pela festa”, disse Insaidoo.

Fonte: The New Iork Times (Sam Dolnick)
Tradução: Eloise De Vylder

domingo, 30 de janeiro de 2011

À medida que os médicos envelhecem, cresce a preocupação com sua capacidade

Há aproximadamente oito anos, aos 78 anos, um cirurgião vascular na Califórnia operou uma mulher, que então sofreu uma embolia pulmonar. O cirurgião não respondeu aos chamados urgentes dos enfermeiros e a mulher morreu.

Mesmo após o hospital ter denunciado o médico ao Conselho de Medicina da Califórnia, ele continuou realizando operações por quatro anos, até o conselho finalmente encaminhá-lo a uma avaliação de competência na Universidade da Califórnia, em San Diego.

“Nós realizamos um exame neuropsicológico e o resultado foi bem anormal”, disse o dr. William Norcross, diretor do programa de avaliação de médicos de lá, que não identificou o cirurgião. “Esse cirurgião tinha anormalidades visuais-espaciais, não apresentava movimentos motores em ordem, não podia reter informação e sua capacidade verbal era muito menor do que a esperado.”

Mas “ninguém sabia que ele tinha um déficit cognitivo e ele não achou que tinha um problema”, prosseguiu Norcross. Foi pedido ao cirurgião que entregasse sua licença médica.

Um terço dos médicos do país tem mais de 65 anos, e essa proporção deverá aumentar. À medida que os médicos da geração “baby boom” (pós-Segunda Guerra Mundial) atingem 65 anos, muitos se encontram em crescentes pressões financeiras, o que os deixa relutantes em se aposentar.

Muitos médicos, é claro, mantêm sua capacidade e mente aguçada além dos 70 anos. Mas os médicos não são imunes a demência, mal de Parkinson, derrames e outros males do envelhecimento. E alguns especialistas alertam que há muito poucas salvaguardas para proteger os pacientes contra aqueles que não deveriam mais estar exercendo sua profissão. “Meu palpite é que o cidadão médio acha que há algum mecanismo que o proteja de médicos incompetentes”, disse Norcross. “Não há.”

Com frequência o mecanismo não entra em ação até um conselho de medicina estadual considerar necessário avaliar um médico. Um estudo de 2005 apontou que a taxa de ações disciplinares era de 6,6% para médicos saídos da escola de medicina há 40 anos, em comparação a 1,3% para aqueles saídos há apenas 10 anos.

Em 2006, um estudo apontou que em operações complicadas, os índices de mortalidade de pacientes eram maiores quando o cirurgião tinha 60 anos ou mais, apesar de não haver diferença entre médicos mais jovens e mais velhos em operações de rotina.

Defensores dos pacientes notam que os pilotos comerciais, que também são responsáveis pela segurança dos outros, devem se aposentar aos 65 anos e passar por exame físico e mental a cada seis meses a partir dos 40 anos. Mas “o exercício da medicina nunca foi organizado de modo a medir a competência do médico”, disse Diane Pinakiewicz, presidente da Fundação Nacional para Segurança do Paciente, sem fins lucrativos. “Nós precisamos avaliar periodicamente os médicos de modo sistemático e abrangente.”

Alguns especialistas estão pedindo por exames cognitivos e físicos regulares assim que os médicos atingem 65 ou 70 anos, e um pequeno grupo de hospitais instituiu avaliações de médicos mais velhos. Alguns conselhos específicos já exigem que os médicos renovem suas licenças a cada 7 a 10 anos e endureceram as exigências para renovação. Mas essas políticas enfrentam resistência da maioria dos médicos.

“Eu não acredito que uma competência reduzida, atribuída apenas à idade, seja um fator significativo para os problemas da maioria dos médicos com desempenho ruim”, disse o dr. Henry Homburger, 64 anos, professor de medicina laboratorial da Clínica Mayo, por e-mail. Doenças mentais como depressão, abuso de substâncias e “fracasso em manter a competência por meio de educação contínua superam a idade como causas de desempenho ruim, na minha opinião”, ele escreveu.

Outros duvidam que um exame único possa ser usado para avaliar o desempenho de médicos de várias especialidades. “Mais pesquisa é necessária para definirmos que combinação de questões cognitivas e motoras é importante”, disse o dr. Stuart Green, membro do comitê de ética da Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos.

Os médicos precisam atender exigências mínimas para continuar praticando. Para renovação da licença médica na maioria dos Estados, os médicos precisam completar um certo número de horas de cursos médicos a cada ano ou dois.

Isso não impressiona especialistas como Norcross. “Você pode dormir durante esses cursos e ninguém perceberá”, ele disse.

Mesmo as novas políticas mais duras dos conselhos de medicina geralmente não se aplicam aos médicos mais velhos, que, devido a direitos adquiridos, não são obrigados a renovar sua certificação –um processo caro e que toma tempo.

Eles são encorajados a fazer isso voluntariamente, mas poucos fazem –menos de 1% dos 69 mil membros considerados com direitos adquiridos do Conselho Americano de Medicina Interna, por exemplo.

Médicos com leve deficiência cognitiva podem não estar cientes de que têm um problema ou que seu desempenho está caindo. As mudanças costumam ser sutis no início: uma pessoa pode não conseguir se lembrar de palavras, aprender coisas novas, aplicar conhecimento na solução de problemas ou realizar múltiplas tarefas.

Essas deficiências podem dificultar a realização das mais recentes recomendações de diagnóstico e tratamento, o aprendizado de novas tecnologias baseadas em computador, a lembrança de informações a respeito de medicamentos, ou funcionar bem em um ambiente estressante como uma sala de emergência.

Apenas quando o comportamento do médico começa a ficar estranho é que outros médicos, enfermeiros e pacientes provavelmente notarão.

Os profissionais de medicina supostamente denunciam práticas inseguras e mau comportamento de seus colegas. Mas os médicos sempre relutam em confrontar outros médicos, especialmente veteranos, que podem tê-los treinado. “Às vezes nós temos empatia demais e temos dificuldade em tomar as decisões difíceis que precisamos”, disse Norcross.

Os médicos frequentemente dão cobertura aos médicos que estão perdendo capacidade, com a presença de outro cirurgião na sala de operação ou revisando regularmente seus casos, disse Green.

O dr. John Fromson, diretor associado de ensino médico de pós-graduação do Hospital Geral de Massachusetts, citou um caso em outro centro médico da Nova Inglaterra, onde os médicos notaram as mudanças cognitivas no presidente de medicina interna de 77 anos.

Ele era altamente respeitado e tinha treinado a maioria dos médicos do centro, de modo que eles relutaram em confrontá-lo. Em vez disso, eles lhe deram uma festa de aposentadoria, na esperança de que ele entenderia a dica. “Mas ele não entendeu”, disse Fromson. “Ele continuou trabalhando.”

Fromson promoveu uma intervenção, na qual quatro ou cinco dos principais colegas do médico o confrontaram do modo mais compassivo possível. “Nós reafirmamos nossa preocupação com ele e pedimos que entregasse sua licença médica”, ele disse. “Os olhos dele se encheram de lágrimas, mas ele entregou.”

Para tirar este fardo de seus pares e proteger ao mesmo tempo os pacientes, 5% a 10% dos hospitais do país começaram a tratar da questão do envelhecimento dos médicos de modo mais sistemático, disse o dr. Jonathan Burroughs, um consultor da Greeley Co., que presta consultoria para hospitais e empresas de saúde.

“Os outros 90% a 95% não estão dispostos a lidar com isso”, ele disse. Em alguns casos, seus esforços foram derrotados pelo quadro médico.

No Driscoll Children’s Hospital em Corpus Christi, Texas, o dr. Karl Serrao, o presidente de credenciamento, decidiu agir lentamente e alistar a ajuda do quadro médico para elaborar uma política para envelhecimento dos médicos. O quadro expressou preocupações com discriminação de idade, a perda de experiência valiosa dos médicos mais velhos e invasão de privacidade. Agora a política do hospital declara que quando os médicos com 70 anos ou mais tiverem que ser renomeados, eles precisarão passar por exames físicos e cognitivos que avaliem o domínio específico para suas especialidades.

Burroughs diz que a avaliação dos médicos pode ser um caminho mais compassivo do que os médicos pensam. “Ao identificar um problema cedo, isso amplia as chances de poder praticar medicina por mais tempo”, ele disse. Quando um déficit cognitivo é discutido abertamente, a prática do médico pode ser simplificada, ele pode reduzir o número de pacientes e seus parceiros podem monitorar e avaliar seu trabalho regularmente.

“Mas assim que algo ruim acontece”, disse Burroughs, “a licença dele será tirada”.

Fonte: The New York Times (Laurie Tarkan)
Tradução: George El Khouri Andolfato