segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Os desafios que esperam Dilma Rousseff

Eleita de forma notável no domingo (31) primeira mulher presidente da história do Brasil, Dilma Rousseff assumirá seu cargo por quatro anos no dia 1º de janeiro de 2011.

Escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para sucedê-lo, “Dilma”, como é chamada pelos brasileiros, prometeu garantir a “continuidade” política, diplomática, econômica e social do atual governo. Foi essa promessa, aliás, a chave de sua vitória.

Lula lhe deixou uma “herança bendita”, ela reconhece. Um crescimento econômico de mais de 7% neste ano. Pobreza e desemprego em baixa. Receita em forte expansão no setor agrícola e minerador, graças, sobretudo à alta das cotações mundiais. Uma espessa reserva monetária de US$ 250 bilhões. Promessas de riqueza com o petróleo e o gás descobertos nas águas profundas do Atlântico. Um sentimento de bem-estar entre grande parte da população que pode gastar e consumir mais. E no plano político, uma forte maioria pró-governamental no Congresso, que lhe permitirá, se assim ela desejar, reformar a Constituição.

País emergente dotado da oitava maior economia do mundo, o Brasil também continua sendo uma nação de terceiro mundo, sob muitos aspectos. Durante seu primeiro discurso como presidente eleita, no domingo à noite em Brasília, Dilma Rousseff reafirmou seu compromisso fundamental: “erradicar a miséria”, “acabar com a fome”.

Sob os oito anos de governo de Lula, a pobreza claramente recuou. Mas o país ainda tem 30 milhões de pessoas na miséria, em uma população de 190 milhões. Faltam 5 milhões de moradias. Um terço dos brasileiros não possui sistema de esgoto e condições mínimas de higiene. Os serviços de saúde continuam deficientes e muitas vezes caros demais.

A educação, verdadeiro calcanhar de Aquiles do Brasil, continua sendo medíocre, especialmente no ensino fundamental e médio, e impede que se forme a mão de obra qualificada da qual o país precisa nesse período de crescimento. A violência urbana é um flagelo alimentado pelo tráfico de drogas. De maneira mais geral, o Brasil é, apesar de Lula, uma das sociedades mais desiguais do planeta.

Lula melhorou as condições de vida dos mais pobres. Mas para poder governar foi obrigado a fechar acordos permanentes com os partidos de oposição, e nunca teve os meios nem a vontade de atacar a corrupção, combater a burocracia, ou iniciar uma reforma política do sistema que passaria, entre outras coisas, pelo financiamento público dos partidos. Será que Dilma se sairá melhor?

Durante seu governo, a presidente também deverá modernizar a infraestrutura vetusta e saturada do país (estradas, aeroportos, portos) para receber a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

Antes de assumir o cargo, Dilma espera que Lula resolva certos assuntos pendentes, entre eles um que diz respeito diretamente à França: a modernização da aeronáutica brasileira. Será que Lula confirmará sua escolha a favor do avião Rafale, fabricado pelo grupo Dassault? Em todo caso, Nicolas Sarkozy foi no domingo à noite o primeiro chefe de Estado a cumprimentar “muito calorosamente” a nova presidente, exultante por a França e o Brasil serem “parceiros privilegiados”. (Le Monde/Jean-Pierre Langellier - Tradução: Lana Lim)