Cerca de 74% das cidades onde as mulheres são a maioria nas Câmaras Municipais estão localizadas na região Nordeste. Em uma lista com 23 municípios em que as mulheres se elegeram em maior quantidade que os homens nas eleições de 2004, apenas seis não estão no Nordeste. As mulheres atingiram a maioria na Câmara Municipal em apenas um município nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Na região Sul não houve sequer um município em que as mulheres superaram o número de homens eleitos. As mulheres têm mais dificuldade de se eleger nos grandes centros do que em municípios de menor porte. Prova disto é o fato de que a maior cidade em que as mulheres foram a maioria é o município de Barreiras, na Bahia.
A cidade tem um eleitorado de 72 mil pessoas e elegeu seis vereadores contra cinco vereadores eleitos em 2004. Por outro lado, São Paulo elegeu 89% de homens para a Câmara Municipal e apenas seis vereadoras, o que corresponde a 11% de mulheres do total de 55 cadeiras da Câmara Municipal.Em três cidades brasileiras as mulheres compõem 80% das casas legislativas. São elas: Pedro do Rosário e Urbano Santos, no Maranhão, e Montanhas, no Rio Grande do Norte.
As informações constam do estudo “Mulheres Sem Espaço no Poder”, do professor José Eustáquio Diniz, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que será divulgado hoje no Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea). Segundo o pesquisador José Eustáquio Diniz, existe uma distorção na representação política parlamentar de gênero no Brasil.
O percentual de mulheres candidatas é um dos fatores mais decisivos para reduzir o desequilíbrio de representação entre os sexos nas Câmaras Municipais. Aperfeiçoar a legislação eleitoral, na opinião do pesquisador, é fundamental para combater a exclusão das mulheres na política e para se alcançar um equilíbrio. “Não existe motivo e nem é aceitável a sub-representação feminina no Poder Legislativo, já que as mulheres são maioria da população”, afirma.Déficit de mulheres na política.
Ao longo dos anos, a representação das mulheres na política cresceu, contudo, ainda está aquém do número de homens na política. Nas eleições de 1974, uma deputada federal foi eleita, o que representou 0,31% do total de deputados naquele ano e 11 deputadas estaduais também conseguiram eleger-se, representando 1,2% do total. Já nas eleições gerais de 2006, foram eleitas 45 deputadas federais, equivalente a 8,2% do total e 133 deputadas estaduais, ou 12,8% do total. A porcentagem de deputadas estaduais é maior que a de deputadas federais.
Segundo a pesquisa, a diferença é fruto de barreiras à entrada das mulheres no âmbito federal.O aumento do número de mulheres candidatas ao longo dos anos leva necessariamente ao aumento médio do número de vereadoras eleitas, de acordo com o estudo. O Brasil, contudo, só não elegeu uma quantidade maior de vereadoras porque o percentual de mulheres candidatas ficou abaixo de 30% na maioria absoluta dos municípios em 2004.
Para que a representação parlamentar feminina possa crescer de maneira expressiva, a pesquisa propõe avançar na Reforma Política e mudar os termos da lei de cotas. Entre as sugestões do estudo para diminuir o déficit democrático de gênero no país estão a redução do número de partidos, visto que as chances de eleição das mulheres aumento quando é menor o número de partidos em cada municípios; a criação de regras de definição da lista de candidaturas partidárias que garantam um percentual mínimo e máximo para cada sexo e garantia de um maior espaço na mídia.
Em 5% dos países mulheres são maioria em altos cargosPesquisa divulgada este mês pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) aponta que apenas na Jamaica, Filipinas, Dominica, Santa Lúcia, Lesoto e Fiji as mulheres são a maioria em funções de poder. Estes países não estão entre as maiores economias mundiais e nem entre as nações mais desenvolvidas.
Nos outros 114 países, o que corresponde a 95% de um total de 120 nações, os homens são mais de 50% dos legisladores, gerentes e funcionários públicos de alto escalão.Dentre os países ricos, apenas nos Estados Unidos há uma maior igualdade de gênero na distribuição dos cargos de poder: 42% deles estão com as mulheres. O Brasil tem 35% dos altos cargos nas mãos delas. (Contas Abertas/Amanda Costa)