sábado, 18 de junho de 2011

Salários de executivos são tão grandes quanto o PIB do Tadjiquistão

Quando o que é grande se torna excessivo? Se a pergunta envolve a remuneração de executivos, a resposta é “com frequência”.

Mas apesar da quantidade de números a respeito da remuneração em qualquer ano, os acionistas frequentemente lutam para colocar esses números em perspectiva. As empresas geralmente exibem números de anos anteriores como referência, mas como essa remuneração está ligada, digamos, aos lucros da empresa ou ao seu desempenho no mercado de ações raramente é mostrada.

Os investidores podem analisar os números pessoalmente, é claro, mas é um processo bastante trabalhoso. Como resultado, a remuneração dos altos executivos das empresas mais proeminentes habita em uma espécie de vácuo, no que se refere aos investidores. Os acionistas sabem que pagam muito pela ajuda contratada, mas muito em comparação a o quê?

As respostas para essa pergunta surgiram rápida e furiosamente em um artigo recente, altamente detalhado, da “The Analyst’s Accounting Observer”, uma publicação da R.G. Associates, uma firma de pesquisa independente de Baltimore. Jack Ciesielski, o presidente da firma, e sua colega Melissa Herboldsheimer, examinaram declarações financeiras das empresas do índice Standard & Poor’s 500. Em uma reportagem intitulada “S&P 500 Executive Pay: Bigger Than ... Whatever You Think It Is” (Remuneração Executiva na S&P 500: Maior que... qualquer coisa que você ache que é), eles compararam a remuneração de altos executivos com outros custos corporativos e medidas.

É um exercício esclarecedor, apesar de enfurecedor. E fornece o ponto de vista que os acionistas precisam desesperadamente, particularmente agora que chegou a hora de votarem a respeito das práticas de remuneração corporativas.

Vamos começar pela vista do alto. A remuneração total de executivos aumentou 13,9% em 2010 entre as 483 empresas para as quais havia dados disponíveis para análise. A remuneração total para os 2.591 executivos nomeados dessas empresas, antes da dedução de impostos, foi de US$ 14,3 bilhões.

Isso é um bocado de dinheiro, não é? Mas Ciesielski coloca em perspectiva ao notar que o total é quase igual ao produto interno bruto do Tadjiquistão, que tem mais de 7 milhões de habitantes.

Empolgando-se com o assunto, Ciesielski também encontrou que 158 empresas pagaram mais remuneração em dinheiro para seus altos executivos no ano passado do que gastaram com suas empresas de contabilidade e auditoria. Trinta e duas empresas pagaram aos seus altos executivos mais em 2010 do que pagaram em impostos.

O artigo também fura o argumento de que concessões de ações aos executivos alinham os interesses dos administradores aos dos acionistas. O artigo calculou que nas 179 empresas no estudo, o valor médio das ações dos acionistas caiu entre 2008 e 2010, enquanto os altos executivos dessas empresas receberam aumentos. O artigo fica realmente suculento quando compara a remuneração executiva com itens como custos de pesquisa e desenvolvimento, e rendimentos por ação.

O artigo, por exemplo, comparou os rendimentos por ação com remuneração em dinheiro –apenas salário e bônus, quando há um. Ele identificou 24 empresas onde a remuneração em dinheiro no ano passado somou 2% ou mais da receita líquida da empresa com suas operações.

No topo dessa lista está a Allergan Inc., a empresa de atendimento de saúde cujos altos executivos receberam, deduzindo impostos, aproximadamente US$ 2,6 milhões em salários no ano passado. Isso representou 50% do que a empresa lucrou com suas operações, disse o artigo.

Caroline Van Hove, uma porta-voz da Allergan, disse que os salários foram altos em comparação à renda líquida em 2010, pois deduções únicas reduziram significativamente os lucros naquele ano; nos anos anteriores, ela notou, os lucros foram bem maiores do que a remuneração dos executivos. Ela também disse que o presidente-executivo da empresa não recebeu aumento de salário nos últimos três anos.

Passando aos custos de pesquisa e desenvolvimento, o artigo examinou as 62 empresas de tecnologia em sua amostragem que declararam essas despesas, excluindo certos custos associados a aquisições.

Ciesielski encontrou que o nível médio de remuneração de executivos foi igual a 5,3% dos gastos dessas empresas em pesquisa e desenvolvimento.

No topo da lista estava a Jabil Circuit, uma fabricante de placas e circuitos eletrônicos para os mercados de informática, comunicações e automotivo. Em 2010, seus US$ 27,7 milhões em remuneração aos executivos foram quase equivalentes aos US$ 28,1 milhões que gastou em pesquisa e desenvolvimento. Apesar do ano passado poder ter sido atípico, nos últimos quatro anos a remuneração na Jabil foi equivalente a 57,2% do valor gasto em pesquisa e desenvolvimento.

A Jabil não respondeu ao pedido de comentário.

Finalmente, há a comparação entre a remuneração executiva e a capitalização no mercado. Como notou Ciesielski, este cálculo fornece o maior choque de valor.

Onze empresas analisadas no artigo deram aos seus altos executivos, em pacotes de remuneração combinados, o equivalente a 1% ou mais do valor médio de mercado das empresas ao longo do ano. O Janus Capital Group, uma empresa de fundo mútuo, ficou no topo da lista, com uma remuneração totalizando quase US$ 41 milhões para cinco executivos. Isso representou 1,95% do valor médio de mercado da empresa ao longo de 2010.

“Para fazer jus ao que ganham”, disse o artigo, “os executivos deveriam criar valor para as ações no mercado no valor total de sua remuneração”. Os executivos da Janus fracassaram em aumentar o valor em 2010, quando as ações fecharam o ano mais ou menos como começaram. Neste ano, as ações da empresa caíram quase 30%.

A Janus se recusou a comentar.

Ciesielski disse acreditar que os acionistas precisam de mais contexto quando se trata de práticas de remuneração –e que isso precisa ser implantado para melhorar os relatórios de remuneração. “Os demonstrativos financeiros não são suficientes para esclarecer as pessoas”, ele disse em uma entrevista na semana passada, “a menos que adicionem a remuneração e encontrem uma forma de relacioná-la a outras coisas”.

“Nós precisamos de um modelo diferente”, ele acrescentou. “Há uma verdadeira falta de informação aqui sobre como os fundos dos acionistas estão sendo administrados.”

Isso pode explicar por que os acionistas, nas reuniões gerais anuais, raramente votam contra as práticas de remuneração. Broc Romanek, editor do CompensationStandards.com, disse que maiorias de acionistas em apenas 34 empresas, ou 2% daquelas que votaram até agora neste ano, rejeitaram os pacotes de remuneração dos executivos.

Se os acionistas pudessem avaliar o impacto da remuneração sobre as operações de uma empresa, eles ficariam mais informados, disse Ciesielski. Por exemplo, por que não mostrar a remuneração total dos executivos de uma empresa em comparação ao total de custos trabalhistas? Ou apresentar a remuneração dos executivos como percentual dos gastos em marketing, se isso é o que impulsiona os resultados de uma empresa?

“Como a remuneração dos executivos se relaciona aos elementos básicos que fazem uma empresa funcionar?” perguntou Ciesielski. “Nós devemos explorar esse tipo de informação.”

Fonte: New York Times (Gretchen Morgenson)
Tradução: George El Khouri Andolfato