sexta-feira, 8 de julho de 2011

EUA conseguirão limitar sua participação na Líbia?

Surgem as pesquisas e os americanos apoiam em peso os ataques aéreos na Líbia. Isso não causa surpresa. Você entra em uma guerra e os americanos apoiam os americanos, que é, em grande parte, como deve ser. Todos os presidentes também esperam confiantemente que seja assim.

É assim que as guerras começam. Neste caso, a guerra começa sem qualquer debate real, sem uma palavra falada no Congresso, sem qualquer discussão filosófica sobre quando e onde usar a força.

Mas como as guerras terminam é outra conversa. E enquanto o presidente Barack Obama promete um fim rápido, eu tenho dificuldade em imaginar como seria uma vitória na Líbia.

Primeiro, se for rápida, não realmente parecerá uma vitória –a menos, é claro, que a expectativa seja de que Muammar Gaddafi se renda e negocie uma saída do país, enquanto ainda tem uma chance.

Esse certamente é um caminho para se torcer. Mas choque e espanto não levaram Saddam Hussein a se esconder em um buraco. Para isso foram necessários soldados marchando em solo. Muitos soldados cobrindo muito terreno.

O almirante Mike Mullen, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, disse que é possível que quando termine o papel dos Estados Unidos –e ele não disse quando seria– Gaddafi ainda esteja no comando da Líbia.

Mas é realmente possível que o fim na Líbia pareça muito com o começo, exceto com a manutenção da zona de exclusão aérea e muitos jipes e tanques queimados no solo?

Nós insistimos que estamos envolvidos na Líbia para prevenir a perda de vida de civis. Gaddafi é, é claro, um ditador impiedoso, não diferente de muitos ditadores há 40 anos.

Mas ninguém consegue seriamente acreditar que escolhemos a Líbia entre todos os locais de risco do mundo apenas para proteger a população. Nós estamos aplicando uma zona de exclusão aérea bombardeando as tropas de Gaddafi. Se você está assistindo a TV, parece bastante o início de uma guerra.

Presumivelmente, nós estamos lá porque estamos torcendo, como deveríamos, pela continuidade do sucesso do Despertar Árabe, e estamos preocupados que se não demonstrarmos apoio na Líbia, o nascente movimento democrático na região perderá força.

E obviamente queremos estar lá porque queremos a queda de Gaddafi. Isso não é segredo. Obama diz que Gaddafi perdeu a legitimidade para governar. Eu acho que nós concordamos que ele perdeu isso décadas atrás.

O que sabemos é que não dá para impor democracia e que, como Obama disse repetidamente, os líbios devem conquistar sua própria liberdade.

A estratégia aqui aparentemente é as forças americanas possibilitarem a zona de exclusão aérea e então partirem, deixando o papel de liderança para a Otan, o que significa uma força de maioria francesa e britânica. Caso aconteça, isso poderia liberar os Estados Unidos a curto prazo, mas isso não muda a dinâmica na região.

Caso isto se transforme em um assunto de longo prazo, uma guerra civil real, nós podemos imaginar o que aconteceria se tropas fossem necessárias para remover Gaddafi. Elas teriam que ser tropas americanas. E o que aconteceria com essas tropas se/quando ele partir?

Alguns neoconservadores favoritos como Hugh Hewitt e Max Boot já estão pedindo por tropas em solo e acusando Obama de ser fraco demais para usá-las. Quantas guerras Obama teria que lutar ao mesmo tempo para perder esse estigma de sujeito que não quer lutar?

Nós sabemos o que acontece quando você emprega tropas. Peggy Noonan disse bem quando escreveu que “no minuto em que há botas no solo, no minuto em que deixarmos pegadas –surgirá, imediatamente, 15 motivos para a América não poder partir. No dia seguinte haverá 30 motivos, e no seguinte passarão a 45”.

Obama concorreu à presidência prometendo retirar as tropas do Iraque. Ele finalmente conseguiu a saída da maioria, mas não de todas. Enquanto isso, o Afeganistão se transformou na guerra de Obama, e as primeiras manchetes se tornaram as futuras manchetes. E a guerra longa se torna ainda mais longa.

Eu sei que Obama entende esses riscos. Ele relutou em se envolver na Líbia. Ele insiste que o papel americano deve ser limitado.

Mas o mundo não é tão simples. Como Donald Rumsfeld costumava dizer, coisas acontecem. Um terremoto de 9,0 atinge o Japão e o eixo do mundo se move.

A missão na Líbia é... qual?

Nós estamos entrando no que pode ser uma guerra civil. Nós não sabemos muito sobre os rebeldes. Eu me pergunto se sabemos quão profundamente comprometidos são os combatentes pró-Gaddafi.

O cenário de sonho é que com bombas suficientes, os simpatizantes de Gaddafi se dispersem, os rebeldes entrem marchando e o final, mesmo que não totalmente feliz, não nos envolva. Se nada disso acontecer, isso ainda nos deixaria com aproximadamente 15, 30, 45 outros cenários possíveis.

Fonte: The Denver Post (Mike Littwin)
Tradução: George El Khouri Andolfato