segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Algumas famílias produzem jogadores de beisebol. Outras produzem terroristas

O senso comum diria que o terrorista típico vem de uma família pobre e tem baixa escolaridade. Isso parece razoável. As crianças que nascem em famílias de baixa renda e com pouca escolaridade têm mais probabilidade do que a média de se tornarem criminosas, então será que o mesmo não vale para os terroristas?

Para descobrir, o economista Alan Krueger vasculhou um informativo do Hezbollah chamado Al-Ahd (O Juramento) e compilou detalhes biográficos de 129 “shahids” mortos, ou mártires. Ele então os comparou com homens da mesma faixa etária da população geral do Líbano. Os terroristas, ele descobriu, tinham menos probabilidade de vir de uma família pobre (28% contra 33%) e mais probabilidade de ter pelo menos ensino médio (47% contra 38%).

Em geral, descobriu Krueger, “os terroristas tendem a sair de famílias de classe média ou alta e de boa escolaridade”. E apesar de poucas exceções, esta tendência também é verdadeira no resto do mundo, desde grupos terroristas latino-americanos até os membros da Al Qaeda responsáveis pelos ataques de 11 de setembro.

Como isso pode ser explicado?

Pode ser porque quando você está faminto, têm coisas melhores para se preocupar do que explodir a si mesmo. Pode ser porque os líderes terroristas dão um alto valor para a competência, uma vez que um ataque terrorista exige mais planejamento do que um crime comum.

Além disso, aponta Krueger, o crime é motivado principalmente pelo ganho pessoal, enquanto o terrorismo é fundamentalmente um ato político. Em sua análise, o tipo de pessoa com maior probabilidade de se tornar terrorista é semelhante ao tipo de pessoa com maior probabilidade de... votar.

Qualquer um que tenha lido um pouco de história reconhecerá que o perfil do terrorista de Krueger soa um tanto quanto o típico revolucionário. Fidel Castro e Che Guevara, Leon Trotsky e Vladimir Lenin – você não encontrará nenhum homem de classe baixa e sem escolaridade entre eles.

Mas um revolucionário e um terrorista têm objetivos diferentes. Revolucionários querem derrubar governos. Terroristas querem – bem, nem sempre isso é claro. Como diz um sociólogo, eles podem desejar refazer o mundo de acordo com sua própria imagem distópica; terroristas religiosos podem querem destruir instituições seculares. Krueger cita mais de 100 definições acadêmicas diferentes para o terrorismo.

O que torna o terrorismo particularmente enlouquecedor é que matar nem é o ponto principal. Em vez disso, são os meios pelos quais amedrontar os vivos. O terrorismo é, portanto, diabolicamente eficiente, exercendo muito mais poder do que uma quantidade igual de violência não terrorista.

Em outubro de 2002, a área metropolitana de Washington D.C. teve 50 assassinatos, um número típico para o local. Mas dez deles foram diferentes. Em vez das disputas domésticas típicas ou assassinatos por parte de gangues, estes foram assassinatos aleatórios e inexplicáveis. Pessoas comuns foram mortas enquanto colocavam gasolina no carro ou cortavam a grama. Depois dos primeiros assassinatos, o pânico se instalou. E conforme continuavam, a região ficou praticamente paralisada.

Que tipo de organização sofisticada engendrou tanto terror?

Apenas duas pessoas: um homem de 41 anos e seu cúmplice adolescente, usando um rifle Bushmaster calibre .223 e atirando de um velho sedã Chevrolet. Tão simples, tão barato e tão eficaz: este é o poder do terror. Imagine se os 19 sequestradores do 11 de setembro, em vez de se darem ao trabalho de chocarem os aviões contra os prédios, tivessem se espalhado ao redor dos Estados Unidos e começado a atirar em pessoas aleatórias todos os dias. O país inteiro teria ficado de joelhos.

O terrorismo é eficiente porque impõe custos sobre todos, não apenas às suas vítimas diretas. O custo mais substancial desses é o medo de um ataque futuro, mesmo que este medo seja transferido grosseiramente: a probabilidade de um norte-americano médio morrer num dado dia do ano vítima de um ataque terrorista é de aproximadamente uma em 5 milhões.

Mas considere os custos menos óbvios, também, como a perda de tempo e liberdade. Pense sobre a última vez que você passou pela fila de segurança do aeroporto e foi obrigado a retirar os sapatos, passar pelo detector de metais e depois andar recolhendo seus pertences.

A beleza do terrorismo – se você é um terrorista – é que você pode ser bem sucedido mesmo quando falha. Nós criamos essa rotina de tirar os sapatos graças a um inglês chamado Richard Reid, que, embora não tenha conseguido acionar a bomba que tinha no seu sapato, acabou deixando um preço alto. Digamos que leve em média um minuto para tirar e colocar os sapatos na fila de segurança do aeroporto. Só nos EUA, este procedimento acontece aproximadamente 560 milhões de vezes por ano. Quinheitos e sessenta milhões de minutos equivalem a mais de 1.065 anos – que, divididos por 77,8 anos (a média de expectativa de vida do norte-americano), chega a um total de quase 14 vidas humanas. Então embora Reid não tenha conseguido matar ninguém, ele impôs um ônus que e o tempo equivalente a 14 vidas por ano.

Os custos diretos dos ataques de 11 de setembro foram massivos – quase 3.000 vidas e prejuízos econômicos de até US$ 300 bilhões – bem como os custos das guerras do Afeganistão e do Iraque que os EUA lançaram em resposta. Mas considere o custo colateral também. Em apenas três meses depois dos ataques, houve mil mortes no trânsito a mais nos EUA. Por quê?

Um fator que contribuiu para isso foi que as pessoas pararam de voar e começaram a pegar a estrada. Por milha, dirigir é muito mais perigoso do que voar. É interessante, entretanto, que o dado mostra que a maior parte desse aumento das mortes no trânsito aconteceu não nas rodovias interestaduais, mas nas estradas locais, e elas se concentraram no nordeste, perto de onde ocorreram os ataques terroristas. Esses fatos, junto com uma miríade de estudos psicológicos de efeitos do terrorismo, sugerem que os ataques de 11 de setembro levaram a um aumento do abuso de álcool e a um estresse pós-traumático que se traduziram, entre outras coisas, em mais mortes no trânsito.

Estes efeitos são quase intermináveis. Milhares de universitários e professores nascidos no estrangeiro foram mantidos fora dos EUA por causa das novas restrições de visto depois dos ataques de 11 de setembro. Na cidade de Nova York, tantos recursos policiais foram desviados para o terrorismo que outras áreas, como unidades anti-Máfia, foram negligenciadas. Um padrão semelhante foi repetido em nível nacional. Dinheiro e mão-de-obra que de outra forma teriam sido gastos caçando criminosos financeiros foram em vez disso desviados para a caça de terroristas – talvez contribuindo para, ou pelo menos exacerbando, a crise financeira recente.

Nem todos os efeitos de 11 de setembro foram prejudiciais. Graças à redução do tráfego aéreo, a gripe influenza demorou a se espalhar. Em Washington D.C. o crime caía sempre que o alerta de terror subia (graças ao policiamento extra que inundava a cidade). E um aumento na segurança nas fronteiras foi benéfica para os fazendeiros da Califórnia – que, à medida que as importações mexicanas e canadenses diminuíram, plantaram e venderam tanta maconha que ela se tornou um dos produtos agrícolas mais valiosos do estado.

Fonte: Freakonomics/Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner
Tradução: Eloise De Vylder